Não leva a mal não. Eu espero do fundo do coração que toda essa minha energia jogada para o universo,sobre a falta que eu sinto, não esteja te atrasando. É só que eu ainda não aprendi a seguir sem sentir nada em relação à você.
Ontem foi seu aniversário e, ainda que inconscientemente, você esteve em mim o tempo todo. Para deixar o dia ainda mais nostálgico, alguém compartilhou na timeline do Twitter uma música do tempo em que eu te conheci. Um filme passou pela minha cabeça.
Deu a maior saudade de zoar e rir com você. De quando a gente conversava sobre os mais variados assuntos. Até mesmo dos momentos em que você dava uma de pai pra cima de mim. As nossas reconciliações depois de brigas bobas (ou sérias), que nos deixavam tempos sem nos falar. A forma como eu tentava me reaproximar sem que você percebesse, pois dizia que não queria mais me ver nem pintada de ouro. Ou aquela vez que você disse que até desabafou com o seu irmão, que aconselhou a me pedir desculpas (um fato raríssimo). Algo sempre me puxava de volta, nem que fosse somente a minha vontade.
Lembranças de quando você tentava me tornar uma versão mais nova do que você era, me fazendo assim a sua aprendiz, como você mesmo dizia. Hoje eu olho para trás, me observando em alguns momentos, e consigo perceber traços da sua personalidade em mim.
É engraçado e me faz rir. Você sempre me aconselhou sobre os garotos, dizendo que não valia a pena sofrer por eles. Ou ainda que eu não sabia o que era, de verdade, o amor maduro, de um homem para uma mulher. Que ironia. Um tempo depois estava você fazendo crescer em mim o primeiro sentimento dessa forma. E você, logo você que dizia não querer mais garotinhas, se encantando por uma recente mulher, mas que ainda carregava tantos sentimentos de menina.
Só agora eu consigo perceber o quão grande foi sua paciência ao aturar a minha imaturidade (de experiências e sentimentos) da época. E que, apesar de sempre ter achado que você não gostava tanto assim de mim, todas essas coisas só provavam o contrário.
Isso me faz repensar sobre a prepotência que nós temos de achar que sabemos sobre o sentimento do outro. Nem tudo é o que parece. E você sempre foi uma pessoa que demonstrava bem pouco em relação ao coração gigante que tem. Mesmo que não dissesse, eu sabia que tinha. Ainda que não fosse de expor, mostrava isso do próprio jeito.
Nós sempre fomos assim. Intensos, explosivos e impulsivos. Para falar a verdade, agora me cai a ficha de que tudo o que você sempre reprovou em mim, eram coisas que existiam em você mesmo. É por isso, e talvez por motivos maiores, que a vida deu um jeito de cruzar nossos caminhos. Duas pessoas de “mundos” tão diferentes não se encontrariam à toa.
Dois seres que precisavam se encontrar, passar por todos os conflitos internos, até chegar ao momento de se redescobrirem e se enxergarem de forma nunca feita antes. O momento decisivo, onde nem a vida foi capaz de fazer os trilhos seguirem juntos. No entanto, fazendo acontecer a evolução a qual foram destinados.
Talvez se eu esbarrasse com você na rua, nem te reconheceria. Provavelmente passaria reto, sem nem olhar para o lado. Mas às vezes eu peço à vida e a tudo que nos guia aqui para que de alguma forma eu possa ter, ao menos, uma última oportunidade de te encontrar por aí. Porque, eu tenho certeza, algo me diria – é ele.
Então eu lembro, ou algo me diz como um sopro no ouvido, que nada acontece antes do tempo. Eu sei que assim como das outras vezes, ainda não estou preparada. Ainda há muita coisa para florescer aqui. E eu posso estar totalmente enganada, como já estive outras vezes, mas algo muito forte insiste em dizer que você não foi um acaso.
Você, com todas as nossas igualdades e diferenças, foi a mudança que precisava acontecer dentro de mim.
Nayara Rosolen