A Netflix lançou, no dia 31 de março, mais uma série original: 13 Reasons Why (Os 13 Porquês). A trama é uma adaptação de um livro que já era bem conhecido. O romance escrito por Jay Asher foi adaptado por Brian Yorkey e Diana Son, dirigido por Thomas MacCarthy e teve a atriz e cantora, Selena Gomez, como um dos produtores executivos. A primeira temporada conta com 13 episódios.
A história é baseada no suicídio de Hannah Baker, uma estudante do ensino médio que, antes de morrer, gravou 13 fitas explicando os 13 porquês (pessoas) que a levaram a tomar tal atitude. Essas fitas são passadas a cada uma dessas pessoas que fizeram parte da vida dela de alguma forma que a marcou, e muitas coisas são reveladas.
Desde que a série foi liberada na plataforma, eu já vi diversas personalidades influentes da internet fazendo posts, vídeos, dando sua opinião sobre a série e até mesmo se abrindo de uma forma bem íntima sobre situações parecidas com as quais Hannah passou. É como se a história da personagem tivesse aberto caminhos para que assuntos tão conhecidos, mas tão pouco reconhecidos, entrassem em pauta. A cada episódio, a história vai ficando mais forte e eu, sinceramente, me senti minúscula diante de tantas situações difíceis, mas que causam impactos justamente por sabermos que são reais.
E aí vai meu primeiro ponto: assim como já vi várias pessoas falando, concordo que é uma crítica incrível à nossa sociedade, faz com que a gente abra mais os nossos olhos às pessoas que estão ao nosso redor. Mas, ao mesmo tempo, pode impactar aqueles que também passam, já passaram ou têm tendência a passar pelas mesmas coisas que a protagonista, de uma maneira não muito legal. Então, se eu posso dar uma dica, é que se você for essa pessoa, não assista.
O que me fez refletir bastante depois de terminar a série é o fato de que, mesmo dando vários sinais de que muita coisa estava errada com ela, as pessoas ao seu redor simplesmente a ignoravam ou então diziam ser apenas drama. Isso porque ela falava. Mas e as pessoas que nem coragem de falar tem? Existe muita gente que sofre em silêncio, mesmo sem ter passado por coisas tão terríveis quanto Hannah, como bullying e estupro, mas que ficam caladas.
Não era a minha intenção, de início, falar sobre mim. Primeiro porque acho que são coisas muito pessoais e segundo, porque acredito serem sentimentos muito meus. Daqueles que a gente dificilmente abre mesmo sentada na poltrona em uma sessão de terapia. Porém, acho ser um momento necessário.
Eu já tive começo de depressão. Mesmo que na minha infância não ligasse para os esforços incansáveis da minha família de me tornar alguém dentro dos padrões de beleza (não-gorda), eu era feliz. Eu ia para a piscina com as minhas amigas, brincava, participava de apresentações de dança na escola. Mas quando cheguei aos 11/12 anos, parece que tudo caiu de uma vez sobre mim. Tudo passou a ter uma importância grande demais. Eu não saía mais de casa, sempre tinha uma desculpa na ponta da língua, ficava “trancada” no meu quarto e passei a fazer amigos pela internet (onde ninguém me julgaria pela minha aparência, a qual passou a ser uma vergonha). Foi a mesma época em que eu comecei a escrever. Já que não conseguia falar com ninguém sobre o que se passava, era nas palavras que eu me libertava. Coisa que as pessoas só foram descobrir que eu fazia em 2015, quando resolvi mostrar meus textos.
Provavelmente, se você perguntar aos meus amigos ou à minha família, eles ainda respondam que era só “aborrescência”. Até hoje existem coisas que só estão guardadas dentro de mim. Como eu me sentia pequena demais, era quieta demais pra ser vista em algo, eu me tornei alguém que gostava de satisfazer a expectativa alheia para me destacar. Minhas notas eram ótimas para os meus pais. Eu era uma filha exemplar, porque não fazia nada de errado (porque na verdade não fazia nada). Eu era a amiga que sempre tinha ouvido para as outras, não media esforços para ajudar e nunca tinha nenhum problema (mas também nunca tinha história para contar). Mas quando tudo isso começou a acumular na minha cabeça, minhas notas começaram a cair, porque eu não sentia mais vontade de estudar. Eu me sentia menor entre as amigas, porque as via fazendo “coisas de adolescente” as quais não me sentia capaz de fazer. Cada pequeno porquê se tornava grande demais pra mim e, mesmo nunca tendo feito nada contra mim mesma (por falta de coragem), foi a pior época da minha vida e eu me vejo carregando coisas até hoje que são consequências disso.
Se hoje eu sou alguém muito mais resolvida comigo mesma, tento transmitir mensagens positivas, fazer graça, levar a vida de forma mais leve, é porque de alguma forma consegui perceber o que estava acontecendo e buscar ajuda. Mas não é todo mundo que consegue fazer esse movimento. É muito difícil aceitar sentimentos ruins que vem de nós mesmos e é por isso que resolvi resumir a minha história para vocês. Para mostrar que mesmo não passando por situações tão visíveis, tem gente que sofre – e sofre muito. E essas pessoas também merecem atenção.
O modo como tratamos e cuidamos um do outro precisa melhorar de algum jeito.
Clay Jensen, 13 Reasons Why.
Já fiz um post aqui, no ano passado, sobre o setembro amarelo e como podemos ajudar pessoas que correm perigo.
Seja o motivo de alguém querer viver, querer ser melhor, se tornar a sua melhor versão. ❤
Beeeijos e até semana que vem,
Oi Nay =)
Eu sou o tipo de pessoa que não pode assistir a essa série. Acho que o tema deve ser tratado, sim, mas pelas críticas e relatos que li e ouvi de pessoas que assistiram, penso ser bem perigosa uma série dessa. Principalmente pq não se tem controle da faixa-etária de quem assiste, por conta do romantismo em cima do suicídio em uma sociedade que banaliza tanto transtornos psicológicos.
Fica com o meu abraço pelo o que vc já passou. Imagino que tenha sido bem difícil, e torço para que cada dia a superação e amor-próprio te eleve ao status do que vc realmente é (e como eu e as outras pessoas te veêm): uma pessoa incrível, amorosa, amiga, cheia de vontade de ajudar a quem precisa.
Amo vc, Gê.
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Ahhh sua linda!!! Muito obrigada mesmo pelo carinho, mana! ❤
E, sim, acho que é um assunto que ter que ser tratado com muito cuidado! Mas acredito também que pode ter sido um meio da própria sociedade começar a falar sobre assuntos como esse e que são tidos como tabu. Sempre vai ter o lado bom e o lado ruim né 😦 Que o bom prevaleça sempre!!!
Amo vocêee ❤
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Oie Na, eu concordo com você, me falaram que os suicídios aumentaram mais ainda depois que a serie saiu, porque infelizmente muita gente tem a mente fraca, né ou passam por isso podendo achar que já que ninguém ajudou ela a unica saída seria o suicídio. Então é bem complicado isso.
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Oi, Lê!! É bem complicado sim. Acho que seja mais por achar que não tem ninguém do lado, do que por “mente fraca”. Cada um tem um jeito de lidar com os sentimentos, é difícil saber o que se passa por dentro do outro 😦 Mas o que li em vários meios é que cresceu a procura pelo Centro de Valorização à Vida, contato que a própria Netflix disponibilizou para aqueles que sentem que precisam se ajuda.
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